sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Perspectivas...

Eu sei, eu sei. Há meses que não nasce nada aqui. As teias de aranha se instalaram, sem dúvida. Mas não morremos. Apenas mudamos. A explicação básica do silencio é que deixei de trabalhar diretamente com estes temas. Até hoje - e já passaram uns 6 meses, salvo erro - não sei se é "felizmente" ou "infelizmente". Sempre pensei que a máquina só poderia ser mudada partindo de dentro. Contradizendo diretamente esse pensamento, durante 2 anos tentei enfrentá-la de frente. Resultado: a minha equipe e eu transformamo-nos num magnífico bibelot, um enfeite, num prêmio de greenwashing que é exibido em cima da prateleira da sala de reuniões da empresa. Cansei. Voltei para a área de negócios, onde eventualmente consigo imprimir, influenciar, provocar a mudança de forma menos espetacular, mais insidiosa, mas claramente mais duradoura. Pelo menos é como funciona o discurso de autoconvencimento.

Mas chega de explicações. Bola para a frente. A luta continua...

Até eu - que não lê jornais, não liga TV - já vi o reboliço provocado pela visita ao Brasil de uma certa blogueira cubana. A minha fonte de atualidade tem sido simplesmente o "mural" do caradelivro. Aproveito a complacência dos amigos altamente atualizados (e atuantes, para muitos) para manter o dedo no pulso do mundo). Assim acompanhei, não necessariamente nessa ordem:
  • A tentativa de redução da maioridade penal, visto como a solução para todos os males. Minha opinião? Que mais uma vez olhamos para o problema pela perspectiva errada. Then again...a minha perspectiva também pode estar errada...
  • A mediática volta de Renan, numa magnifica exibição/demonstração de maquiavelismo político (sem julgamento, gente. Sério, é apenas uma constatação).
  • A crise em Portugal e na Europa, em geral, que parece ser quase literalmente um poço sem fundo. As soluções de austeridade parecem não surtir outro efeito senão aumentar o descontentamento de um povo que parece estranhamente dócil ou anestesiado e exausto.
  • A renuncia do papa bento-não-sei-das-quantas e possível ascensão ao poder do primeiro papa negro, homofóbico e defensor da pena de morte. Aqui entre nós, espero que este ganhe. De verdade. Sem absolutamente nenhum cinismo ou ironia. Ele tem o meu voto.
  • A queda abismal de um herói na pessoa do corredor Oscar Pistorius que matou a namorada no dia de São Valentim. Até hoje não percebi se afinal foi acidente ou crime passional mesmo.
  • Etc...
A última notícia - razão que me tirou do silêncio - foi a visita ao Brasil da blogueira cubana Yoani Sánchez, de quem nunca tinha ouvido falar. E qual é discussão desta vez? Uns acham que ela é uma mentirosa patológica financiada pela inteligencia dissidente cubana em conivência estreita com os corredores do poder estadunidenses. Outros acham que ela é o arauto heroico dos filhos renegados de Castro e Guevara. Então uns apedrejam e outros acolhem e protegem. É uma situação que me lembra muito esta imagem sobre a guerra entre crentes e ateus. Sem conhecer a tal blogueira - e sem paciência para investigar mais - eu diria que provavelmente a "verdade" há de estar algures no meio do caminho entre o fanatismo dos dois lados do muro.

Coerência? Para quê?

Don't get me wrong. O meu coração sociopolítico está também mais para o lado esquerdo. Daí a acreditar cegamente em contos de fada, vai um mundo.

O regime cubano é perfeito? Certamente que não. Lembro-me de ter ficado chocado de ouvir o Che dizer, em 64, perante a ONU
“Fusilamientos, si. Hemos fusilado. Fusilamos y seguiremos fusilando mientras sea necesario. Nuestra lucha es uma lucha a muerte”
Já escrevi neste blog, o que penso sobre a corrupção do poder. Há ou houve violações de liberdades básicas em Cuba, não tenho dúvida. Eu disse algures que o comunismo - como o capitalismo, aliás - são conceitos espetaculares. Conceitualmente. Na prática sofrem do mesmo defeito: não deram a devida atenção ao ego do homem. Simples assim.

Mas, continuando o raciocínio, certamente muita coisa em Cuba não é perfeita. Certamente que, mesmo que ela tenha um olhar parcial sobre o país dela, a blogueira diz ou disse muitas verdades, apresentou para o mundo muitas realidade que o poder local não gostaria de ver divulgadas. É de conhecimento de todas as pessoas minimamente informadas de que o regime de Cuba nunca lidou particularmente bem com a oposição. Podem sempre usar a estratégia da avestruz, se quiserem. Não tenho a mínima dúvida sobre isso. E não vejo absolutamente nenhum problema com o fato da Yoani Sánchez divulgar e/ou apontar isso. Desde que ela não invente. Não é preciso ser um gênio para perceber e aceitar, que sem oposição não existe democracia. Não é como se eu estivesse a inventar a pólvora ao dizer isso. Posso não concordar com o que ela disse, mas daí a vilipendiá-la como se ela fosse a última responsável pelo genocídio do Ruanda? Haja bom-senso. Não me recordo quem, mas alguma figura disse um dia algo como "não concordo com o que dizes, mas lutarei até á morte pelo direito de o dizeres".

Por outro lado, mesmo longe de ser perfeito, um outro ponto de vista sobre Cuba foi filmado pelo Michel Moore no documentário "Sicko". Ali, a avaliação é que, com muito sofrimento, o regime garante uma série de benefícios para todas as classes sociais do país - saúde e infraestrutura, essencialmente - de forma justa e igualitária, algo que não existe nos estados unidos.

Duas face da mesma moeda, dois pontos de vista sobre o mesmo assunto, dois prismas, duas perspectivas de duas pessoas inteligentes - parto dessa premissa. Qual é a chance de só uma delas ter razão? No mínimo têm em comum uma visão panfletária do planeta. Muitos vão escolher campos, mas tenho sérias dúvidas se esse é o caminho...